O que os Filmes do Oscar 2024 têm em Comum com a Saúde Mental?

A premiação do Oscar 2024 aconteceu no último domingo, dia 11 de março, e com ela a oportunidade de analisarmos os filmes que mais impactaram a indústria cinematográfica no último ano. Além disso, a qualidade técnica e artística, podemos ir além e explorar como esses filmes abordam a saúde mental, um tema cada vez mais presente em nossas conversas.

Nesta análise, vamos nos aprofundar em alguns dos filmes indicados ao Oscar e traçar paralelos entre seus personagens e diferentes condições de saúde mental. É importante ressaltar que, essa análise não é definitiva, mas sim um convite à reflexão sobre como o cinema pode retratar e conscientizar sobre as diversas nuances da mente humana.

 Anatomia de uma Queda: relação com depressão e suicídio


Em uma região montanhosa da França, a família composta por Sandra, Samuel e Daniel vive em reclusão. A morte súbita de Samuel, o pai, após uma queda do terceiro andar da casa, abala a rotina familiar. A investigação policial levanta a suspeita de que a morte não foi acidental, levando Sandra a julgamento.

No tribunal, segredos da vida familiar são revelados, impactando a relação entre Sandra e Daniel. A única testemunha do acontecimento, Daniel, por ser deficiente visual, não consegue determinar se a mãe é culpada ou se o pai se suicidou. A incerteza paira sobre o caso, enquanto a busca pela verdade se torna uma batalha entre a justiça e a memória fragmentada de um menino.

A relação do pai com álcool, medicamentos antidepressivos e a depressão também são alguns dos motivos que levam o espectador a ser induzido a pensar que ocorreu um suicídio. Entretanto, em vários outros momentos a dúvida volta á tona.

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Barbie

Com a direção da talentosa Greta Gerwig e um elenco estelar liderado por Margot Robbie e Ryan Gosling, o filme indicado ao Oscar: Barbie, é uma experiência cinematográfica única.

A trama gira em torno da personagem da Barbie, que, ao perceber que a vida na Barbieland não é tão perfeita quanto parece, embarca em uma jornada de autodescoberta. Ao contrastar a cidade impecável da boneca com a realidade do mundo exterior, Gerwig tece uma crítica social sagaz, abordando temas relevantes como feminismo e saúde mental.

De forma leve e cômica, o filme explora as nuances da vida moderna, incluindo os desafios da ansiedade e da depressão.

A trama aborda temas como:

  • A busca por um ideal inalcançável de beleza e perfeição: A personagem de Robbie se depara com a pressão social para se encaixar em um molde irreal, levando-a a questionar sua identidade e valor.
  • Os estereótipos de gênero: O filme explora como os papéis tradicionais de gênero podem ser limitantes e prejudiciais, tanto para homens quanto para mulheres.
  • A importância da autoaceitação e da autoestima: A jornada da Barbie a leva a reconhecer suas qualidades e a aceitar suas imperfeições, aprendendo a amar a si mesma como é.
  • A busca pela felicidade e pelo sentido da vida: O filme questiona o que realmente importa na vida e como encontrar a verdadeira felicidade, indo além das aparências e do sucesso superficial.


Pobres Criaturas: Um Espelho Reflexivo da Saúde Mental

O filme “Pobres Criaturas”, indicado para várias estatuetas do Oscar, dirigido por Alexandro Landeiro e estrelado por Emma Stone, mergulha em um universo surreal onde a realidade se mistura com a fantasia. A personagem de Stone, Bella Baxter, vive em constante conflito com sua mente. Ela questiona, assim, a própria sanidade e os limites entre o real e o imaginário.

Através de uma narrativa não linear e rica em simbolismos, o filme explora diversos temas relacionados à saúde mental, convidando-nos a refletir sobre:

1. Ansiedade e Ataques de Pânico: Bella experimenta crises de ansiedade que se manifestam em ataques de pânico repentinos e incapacitantes. O filme retrata com fidelidade os efeitos físicos e emocionais desses eventos, como palpitações, falta de ar, medo intenso e descontrole emocional.

2. Depressão e Perda de Interesse: A personagem apresenta sintomas de depressão, como desânimo, apatia, perda de energia e desinteresse pelas atividades que antes lhe davam prazer. O filme mostra como a depressão pode afetar a vida. Isto é visto em várias esferas, como: social, profissional e pessoal.

Outro ponto, é que a construção do personagem de Emma Stone, é construído após o suicídio de uma mulher, que estava em depressão. E a partir desse acontecimento, um cientista começa a “construir” a protagonista, Bella Baxter.

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Os Rejeitados

No filme indicado ao Oscar, Angus Tully (Dominic Sessa) é um adolescente com problemas de saúde mental, que é obrigado a passar o recesso de natal no colégio interno onde estuda. Lá, ele convive com o professor de história Paul (Paul Giamatti), um antissocial que é encarregado de supervisionar o garoto a contragosto. À primeira vista, o aluno e seu professor são completamente opostos. Entretanto, a situação demonstra que eles podem ser mais parecidos do que imaginam – e é nesse contexto que os dois descobrem mais sobre si, enfrentando seus demônios pessoais.

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“Os Rejeitados” surge como um filme crucial para entendermos como pessoas em luto navegam essa época festiva em meio a lutas internas complexas.

Mais do que mera identificação, o longa oferece um olhar cuidadoso sobre a melancolia, convidando-nos a refletir sobre sua natureza inerente ao ser humano e a necessidade de acolhê-la.

O filme indicado ao Oscar, nos convida a:

  • Compreender a melancolia como um sentimento humano legítimo: A dor da perda não se dissolve com o brilho das luzes natalinas. “Os Rejeitados” lembra que a melancolia é parte da vida e precisa ser respeitada.

  • Navegar pelas festas de fim de ano com compaixão por si mesmo: É fundamental reconhecer que a alegria não é uma obrigação e que está tudo bem se você não se sentir no clima festivo.

  • Encontrar apoio e conexão com outras pessoas: O filme demonstra como o luto pode ser um processo solitário, mas que a conexão com outras pessoas que também sofrem pode ser uma fonte de conforto e força.

Oppenheimer

O grande vencedor do Oscar de Melhor Filme 2024, tem gerado debates acalorados, especialmente no campo da psicologia. O personagem principal, J. Robert Oppenheimer, interpretado por Cillian Murphy, é um físico brilhante que liderou o Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento da bomba atômica.

Um ponto crucial da discussão gira em torno da distinção entre narcisismo e húbris. O narcisista tem como característica um senso inflado de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia pelos outros. Já a húbris se refere ao orgulho excessivo e à arrogância, que podem levar a erros de julgamento e ações imprudentes.

No caso de Oppenheimer, o autor do canal YouTube Cinema Therapy, Jonathan Decker, argumenta que ele não se encaixa no perfil narcisista. Apesar de sua inteligência excepcional e convicção em suas habilidades, Oppenheimer demonstra compaixão pelas pessoas e não busca rebaixá-las para se sentir superior.

No entanto, o personagem apresenta um alto grau de arrogância. Ele acredita ser único e especialmente talentoso. Desse modo, ele toma decisões precipitadas, como manter um relacionamento extraconjugal com Jean Tatlock (Emily Blunt) enquanto é casado com Kitty Oppenheimer (Kathryn Bigelow).

Essa húbris, por sua vez, pode ter raízes em suas crenças e valores. É possível que Oppenheimer acredite que seus objetivos científicos são tão importantes que justificam qualquer sacrifício pessoal, inclusive a negligência de seus relacionamentos.

Em uma perspectiva terapêutica, o autor sugere que o tratamento cognitivo-comportamental seria útil para Oppenheimer. Essa abordagem o ajudaria a questionar suas crenças sobre si mesmo e o mundo ao seu redor. Desse modo, ele reconhece seus pontos fortes e fracos e buscando um equilíbrio entre suas ambições e responsabilidades.

Ao analisarmos o personagem de Oppenheimer, podemos aprender valiosas lições sobre os perigos da arrogância e a importância da humildade. É fundamental reconhecer nossas qualidades e talentos, mas também é crucial manter os pés no chão e considerar as consequências de nossas ações.

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