“Por lugares incríveis” aborda depressão e bipolaridade
- Guido Boabaid
- 20/03/2024
- Tempo: 8 minutos
A depressão e a bipolaridade conduzem a narrativa de Por Lugares Incríveis, filme da Netflix baseado no livro homônimo. Violet é uma adolescente que enfrenta um quadro de depressão após a morte de sua irmã em um acidente de carro. Em plena juventude, ela deixa de lado os momentos com os amigos e se isola em seu quarto.
Finch vive momentos cheios de alegria em que contagia todos à sua volta com a vontade de viver. Mas de uma hora para outra, some durante semanas, sem qualquer explicação para os amigos.
Os dois são os personagens principais de Por Lugares Incríveis, que estreou em março de 2020. Elle Fanning e Justice Smith dão vida aos protagonistas completos deste sensível drama que aborda a depressão e bipolaridade na adolescência.
Sumário
Sobre o que fala o filme?
O filme da Netflix baseia-se no livro de Jennifer Niven. Assim, a autora colocou no papel algumas de suas próprias experiências, fazendo com que muitas pessoas se identifiquem.
Violet mostra bem o lado pessimista e sombrio de quem vive com depressão. O contexto familiar da personagem permite que o público perceba como é difícil para a família entender as limitações de quem sofre com o transtorno. Além disso, a amizade com Fitch é um ponto importante para que a jovem retome as rédeas de sua vida.
Porém, Finch vive suas próprias angústias. O diagnóstico não é explícito no filme, mas quem conhece os sintomas dos episódios maníacos e depressivos de quem tem Síndrome do Transtorno Bipolar reconhece claramente. A história deixa ainda nas entrelinhas que a doença vem de uma herança genética de um pai ausente e que deixou traumas na família.
Depressão e bipolaridade são transtornos difíceis em qualquer fase da vida, mas o filme busca apontar as dificuldades no convívio e como na adolescência a situação ganha uma maior complexidade.
Enfrentar as doenças em uma fase cheia de incertezas, inseguranças e de formação da personalidade é um grande desafio.
Confira o trailer do filme:
Depressão na adolescência
Um em cada cinco jovens entre 12 e 18 anos sofre de depressão no Brasil. O índice é alto e os fatores que levam a um quadro depressivo na adolescência variam.
No filme da Netflix, Violet desenvolveu a depressão após um episódio traumático. Porém, a doença pode acontecer por um desequilíbrio químico no cérebro ou ser desencadear-se por questões psicológicas relacionadas à dificuldade em lidar com frustrações, bullying, além de pressão pela escolha da carreira e por um bom desempenho escolar.
O diagnóstico da depressão na adolescência pode ser difícil. Muitas vezes pode-se confundir os sintomas com mudanças naturais deste período da vida. É importante uma atenção extra da família e dos profissionais da saúde.
Em muitos casos, a escola pode ser um agente importante para identificar um adolescente que precisa de ajuda, seja pelo desempenho nas avaliações ou comportamento em sala de aula.
:: Leia também: Sintomas de depressão – Entenda como o transtorno se manifesta ::
Transtorno Bipolar é uma das principais causas de incapacidade
Em Por Lugares Incríveis, Theodore Finch some sem qualquer explicação por vários dias. Os amigos já estavam acostumados com esses episódios de ausência na escola e em que ele não respondia a mensagens no celular.
No filme da Netflix, o protagonista enfrenta durante esse período momentos fora de si, em que perdia o controle sobre seus atos, ficando agressivo e depressivo.
Em Por Lugares Incríveis, assim como os episódios de isolamento começavam, terminavam e davam lugar a um grande senso de humor, mostrando um Fitch cativante e alegre. É essa parte da personalidade dele que ajuda a amiga Violet a lutar contra a depressão.
Sem uma família presente, não há alguém por perto para perceber que o adolescente está enfrentando um transtorno bipolar. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões de pessoas no mundo e considera-se uma das principais causas de incapacidade.
Os índices são bem preocupantes quando analisamos os índices de pessoas com bipolaridade que tentam suicídio. Entre 30% e 50% dos brasileiros portadores de transtorno bipolar tentam tirar suas próprias vidas, segundo dados da ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar).
De acordo com a entidade, dos que tentam se matar, 20% conseguem o objetivo. “De todas as doenças e de todos os transtornos, o bipolar é o que mais causa suicídios”, alerta a presidente da ABTB, Ângela Scippa.
Segundo a professora de psiquiatria Maria das Graças de Oliveira, da UnB (Universidade de Brasília), o maior risco está entre as pessoas que apresentam bipolaridade com estados mistos, em que os sintomas de depressão com o de exaltação do humor se misturam.
Inovação: Teste farmacogenético pode ser aliado no tratamento de bipolaridade e depressão
As variáveis genéticas fazem com que as pessoas reajam de formas diferentes a um mesmo medicamento, interferindo na forma como os medicamentos são absorvidos e circulam em nosso corpo.
Uma mutação genética pode fazer um paciente processar muito rápido uma substância, o que faz com que o medicamento elimini-se do organismo antes de oferecer algum resultado.
Em outros casos, o gene pode fazer com que a pessoa tenha uma metabolização mais lenta, fazendo com que um medicamento fique concentrado no sangue por muito tempo, ocasionando efeitos colaterais.
A Farmacogenética é um ramo da ciência que estuda essa relação dos genes com os fármacos. A partir dela surgiram os testes farmacogenéticos, exames que sequenciam o DNA e analisam como os genes interferem nos medicamentos.
Na área da Psiquiatria, o teste farmacogenético é muito importante para guiar tratamentos. Além da análise reduzir os riscos de efeitos colaterais, ela oferece uma série de dados para que o médico prescreva medicamentos e dosagens de forma mais eficiente.
Considerando que fármacos para o tratamento de doenças como depressão, ansiedade e bipolaridade levam cerca de 3 a 4 semanas para fazer efeito, tornar a prescrição mais assertiva é um ganho de tempo na busca pela qualidade de vida do paciente.
O Teste Farmacogenético no tratamento da bipolaridade
A bipolaridade não tem cura, mas com o tratamento adequado é possível controlar os sintomas e ter uma vida normal. O tratamento adequado inclui o uso de medicamentos e psicoterapia. Em relação aos medicamentos, o tratamento depende do tipo de bipolaridade, gravidade e evolução da doença.
Utilizam-se fármacos neurolépticos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, ansiolíticos, estabilizadores de humor e o carbonato de lítio para reverter os quadros agudos de euforia e evitar a recorrência das crises.
O teste farmacogenético pode ser uma ferramenta importante para encontrar os medicamentos que tendem a ser mais eficazes e com menos riscos de efeitos colaterais para o paciente.
O exame analisa os medicamentos, as interações entre eles e como os genes do paciente interferem no metabolismo, resposta e toxicidade das substâncias.
O Teste Farmacogenético no tratamento depressão
O tratamento para a depressão é igualmente importante. Os medicamentos são utilizados para ajudar o paciente a regular o sono e a química cerebral, permitindo o controle dos sintomas. Com isso, a pessoa consegue recuperar a qualidade de vida para lidar com suas angústias.
Muitos pacientes sofrem com efeitos colaterais ou medicamentos que não fazem efeito e abandonam o tratamento. Por isso, o teste farmacogenético pode ser um importante aliado para encontrar os medicamentos e dosagens mais adequados para o paciente, reduzindo riscos de efeitos colaterais e potencializando assim o sucesso do tratamento.
O teste farmacogenético utilizado no tratamento da depressão analisa medicamentos antidepressivos como Bupropiona, Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Sertralina, entre outros.